A Odisseia de Nikos Kazantzákis : epopeia moderna do heroísmo trágico
Epopeia de 33.333 versos, a Odisseia de Nikos Kazantzákis (1883-1957) surge em sua época como gênero considerado esgotado e substituído pelo romance. Nesta investigação, porém, Carolina Bernardes procura mostrar que o poema épico de Kazantzakis, ainda que pareça representar um anacronismo em tempos modernos e, para muitos, uma afronta às normas estéticas, é, assim como muitas das obras de sua época, a confirmação das intenções inovadoras em tempos de (discurso) crise, por meio da incorporação de uma trajetória filosófica do renomado herói Odisseu, baseada no niilismo nietzschiano e na evolução criadora de Bergson. O percurso de superação empreendido pelo Odisseu moderno oferece a possibilidade de se avaliar as consequências da Odisseia de Kazantzakis no cenário moderno, demonstrando que a obra pode ser compreendida, igualmente, como um canto de ordem trágica e filosófica. Ao reescrever a grande epopeia da tradição clássica, Kazantzakis procura tirar consequências do sentimento de decadência histórica grega e ocidental e rever o sentido de cultura de seu país e do homem na modernidade. E, ao procurar acompanhar o itinerário heroico deste Odisseu entre mundos, Carolina avalia como a reabilitação do gênero épico e a retomada do renomado herói problematizam a questão moderna entre tradição e ruptura.